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Histórias dos Monges da SRF – Descobrindo a Autobiografia de um Iogue

Descobrindo a Autobiografia de um Iogue

Lembranças de alguns discípulos de Paramahansa Yogananda.

Em dezembro de 1946 a editora de Nova York enviou os primeiros exemplares da Autobiografia de um Iogue para a sede internacional da Self-Realization Fellowship.

Em 1996, com a comemoração do cinquentenário da primeira edição, alguns dos discípulos mais antigos e mais próximos de Paramahansa Yogananda recordaram as circunstâncias em que conheceram o livro e o impacto que sentiram. Foram os primeiros a experimentar a sabedoria, o amor divino e a visão transformadora que as páginas do livro irradiam – livro que desde aquela época vem mudando a existência de milhões de pessoas.

 

 

Sri Daya Mata

Paramahansaji trabalhou na redação da Autobiografia de um Iogue durante muitos anos. Quando cheguei a Mount Washington em 1931, ele já tinha iniciado o livro. Certa ocasião, eu estava em seu escritório cumprindo algumas tarefas como secretária e tive o privilégio de ver um dos primeiros capítulos: o que se referia ao “swami dos tigres”. Gurudeva pediu que eu o guardasse, indicando que era material para um livro.
Mas a maior parte da obra foi escrita de 1937 a 1945. Paramahansaji tinha tantas responsabilidades e obrigações que não podia trabalhar todos os dias na Autobiografia. Mesmo assim, em geral ele dedicava as primeiras horas da noite e todo tempo livre que tivesse para trabalhar no livo. Na época, um pequeno grupo de discípulas – Ananda Mata (ver foto abaixo), Shradda Mata e eu – estava sempre à sua disposição para ajudá-lo. Depois que cada capítulo era datilografado, Gurudeva o entregava a Tara Mata, que cumpria as funções de editora.
Um dia, enquanto trabalhava na autobiografia, o Guru nos disse: “Quando eu abandonar o mundo, este livro mudará a vida de milhões de pessoas; será meu mensageiro depois que eu partir.”
Ao terminar o manuscrito, a responsabilidade de encontrar uma editora foi entregue a Tara Mata, que levou o livro para Nova York. Paramahansaji tinha em alta estima a capacidade e os conhecimentos de Tara Mata para revisar e corrigir textos e era comum elogiá-la abertamente. Ele disse: “O que ela fez por este livro é quase impossível de descrever. Ela estava gravemente doente antes de ir para Nova York; mesmo assim, fez a viagem. Se não fosse por ela, o livro não teria sido publicado.”

Não há palavras que descrevam a alegria e felicidade de Gurudeva quando viu a obra terminada. Dedicou um exemplar a cada um dos muitos devotos que viviam nos ashrams. Como eu tinha ajudado a datilografar o manuscrito, quando recebi meu exemplar já sabia que se tratava de uma obra imortal, um livro que pela primeira vez revelava algumas verdades ocultas à maioria das pessoas; verdades nunca antes apresentadas de modo tão diáfano e inspirador. Nenhum outro autor havia explicado conceitos como a lei dos milagres, a reencarnação, o karma, a vida após a morte e outras verdades maravilhosas com a mesma clareza de Guruji.

Hoje em dia, como reagiria ele perante o êxito do livro? Sem dúvida ficaria humildemente comovido ao ver que a Autobiografia de um Iogue chegou a todos os cantos do mundo, a pessoas de todas as idades, das mais diferentes culturas, raças e religiões e que foi acolhido com muitos elogios e enorme entusiasmo ao longo dos últimos cinquenta anos. Guruji nunca foi convencido. Em absoluto. Mas nem por isso deixava de reconhecer o valor do que tinha escrito, pois sabia que era a expressão da verdade.

 

Tara Mata

Dedicatória no exemplar da Autobiografia de um Iogue que Paramahansaji presenteou a Tara Mata (Laurie
Pratt). Nos “Agradecimentos do autor” ele presta homenagem ao trabalho editorial de Tara Mata e na dedicatória atesta o valor do magnífico serviço prestado pela estimada discípula.

 

Para Laurie Pratt

«Que Deus e os Gurus sempre a abençoem pelo papel amoroso e valente que você desempenhou na realização deste livro. P.Y.».

«Finalmente a sagrada fragância de Deus, de meus gurus e dos mestres brotou das portas secretas de minha alma, após superar inúmeros obstáculos e graças aos constantes esforços de Laurie Pratt e de outros discípulos. Toda a lenha das dificuldades ardeu na chama eterna da bem-aventurança.”

 

Mrinalini Mata

Foi numa tarde ao final do ano de 1946. Nós, os devotos mais jovens, estávamos na cozinha do eremitério de Encinitas cumprindo nossos deveres, quando de repente Gurudeva apareceu na porta. Paramos imediatamente as atividades. Seu imenso sorriso chamava a atenção e percebemos que em seus olhos havia um brilho mais bonito do que o habitual. Ele escondia algo atrás do corpo. Chamou os que estavam mais longe e quando chegamos todos bem perto, ele mostrou o tesouro escondido: um exemplar de seu livro, a Autobiografia de um Iogue, que havia chegado. Nossas exclamações mal conseguiam expressar a imensa alegria que sentimos, quando finalmente vimos a tão esperada obra que contava sua vida na Índia entre grandes santos e sábios; histórias que tantas vezes haviam cativado nossa atenção nas preciosas horas passadas em sua companhia. Ele mostrou algumas páginas, deixando a ilustração de Mahavatar Babaji para o final. Quase sem respirar, manifestamos nosso respeito. Sabíamos que era uma grande bênção ser os primeiros a contemplar a imagem de nosso param-param-paramguru.

No início de dezembro, fomos chamados a Mount Washington para desembrulhar as volumosas caixas enviadas pela editora e preparar as remessas para centenas de devotos que aguardavam ansiosamente o livro. Com várias semanas de antecedência, em nosso tempo livre tínhamos datilografado os endereços em etiquetas adesivas, usando a velha máquina de escrever. Colocamos mesas enormes no escritório (tábuas simples apoiadas em cavaletes) e formamos uma espécie de linha de montagem: o papel de embrulho vinha num rolo imenso e tínhamos que cortá-lo a mão, na medida certa para embrulhar livro por livro. Depois colávamos em cada pacote a etiqueta e os selos, previamente umedecidos numa esponja molhada. Naquela época não tínhamos máquinas para embalagem ou selagem automática! Mas que alegria participar de um acontecimento que seria inesquecível para a história da Self-Realization Fellowship! O mundo inteiro conheceria nosso abençoado Mestre através deste sublime embaixador.

Na sala de estar do segundo piso, Gurudeva sentou-se diante da mesa e assinou todos os livros. Fez isso muitas horas sem parar, sem descansar. Os livros eram tirados das caixas, abertos e colocados diante dele, num fluxo incessante de autógrafos e acabando a tinta de várias canetas.

Já era tarde quando ele me mandou subir. Continuava assinando os livros. Os discípulos mais velhos insistiam para que descansasse um pouco, mas ele continuou até a última assinatura, que colocava junto com uma bênção, no último livro daquela remessa. Seu rosto resplandecia com a expressão mais venturosa que se possa imaginar, como se através das páginas ele enviasse uma parte de si mesmo e de seu amor por Deus – e isso não deveria tardar nem um segundo a mais.

Com alegria inefável, sentamos a seus pés e meditamos até altas horas da madrugada. Cada um de nós havia recebido das mãos do Mestre um exemplar do precioso tesouro. Muitíssimos livros já estavam preparados para o envio pelo correio no dia seguinte ou tinham sido embrulhados para serem levados aos templos de Hollywood e San Diego.

A Autobiografia de um Iogue se encaminhava assim a seu destino divino, levando as bênçãos do Guru e seu amor a Deus a milhões de buscadores da Verdade.

 

Sailasuta Mata

Paramahansaji escreveu a maior parte da Autobiografia de um Iogue – projeto que levou vários anos para completar – no eremitério de Encinitas. Naquela época havia poucos discípulos residindo ali e eu estava entre eles.

Guruji trabalhava em seu apartamento com a ajuda de Daya Mata e Ananda Mata como secretárias; elas escreviam a máquina ou taquigrafavam o que o Mestre ditava. Lembro que algumas ocasiões ele passava a noite toda ditando e às vezes também entrava no dia seguinte e por aí vai. Minha tarefa era diferente: eu devia preparar a comida para que pudessem trabalhar sem interrupção!

Quando os primeiros exemplares da Autobiografia de um Iogue chegaram da editora, houve grande alegria entre nós. Guruji queria que mandássemos logo o livro a todas as pessoas que o tinham encomendado com antecedência! Foi assim que depois dos primeiros momentos de alegria, ficamos atarefados preparando os muitos pedidos pendentes. Sister Shila e eu embrulhamos muitos livros, selamos os pacotes e deixamos tudo preparado. Depois fomos até o carro, abrimos o porta-malas e todas as portas e o enchemos até em cima. Então levamos os pacotes ao Correio Central de Los Angeles. Estávamos muito contentes. Finalmente a Autobiografia de um Iogue estaria disponível para todos, em qualquer lugar!

 

Brother Bhaktananda

Em 1939, pouco tempo depois de eu entrar para o ashram, um dia Paramahansaji conversava com alguns de nós no saguão do edifício da sede central em Mount Washington. Ele comentou que Deus lhe havia revelado que durante seu tempo de vida na Terra ele teria que escrever certos livros e que depois de escrevê-los sua missão estaria cumprida. Um deles era a Autobiografia de um Iogue. Quando o livro foi publicado, eu o li do começo ao fim em poucos dias. Achei o livro maravilhoso e inspirador! Lembro que já naquela época pensei que o livro teria um papel importante no trabalho de despertar o interesse pelos ensinamentos de Paramahansaji. Até agora só vimos a ponta do iceberg.

 

Uma Mata

Quando conheci Paramahansa Yogananda em 1943, eu tinha 9 anos. Meu pai era membro da Self-Realization Fellowship e assistia regularmente os serviços do templo de San Diego. Ele era muito reservado e nunca tentou convencer a ninguém de suas crenças, nem mesmo a mim; jamais me mostrou o exemplar da Autobiografia de um Iogue que tinha recebido de presente de Paramahansaji. Quando descobri o livro por acaso em 1947 demorei um pouco para lê-lo, pois eu era bem jovem e havia palavras muito complicadas! Apesar disso, desde o primeiro momento o livro foi um refúgio para mim, um bálsamo para a alma. Acima de tudo, a Autobiografia de um Iogue nos mostra, que é possível conhecer Deus.

 

Mukti Mata

Lembro muito bem o primeiro Natal que passei no ashram, em 1946. Paramahansaji tinha terminado de escrever a Autobiografia de um Iogue e deu um exemplar de presente a cada um dos residentes. As páginas do livro refletiam com muita força a personalidade viva e encantadora de nosso Guru – o amor e a alegria que sentíamos quando estávamos em sua presença. Quanta inspiração sentíamos ao ouvir pessoalmente os relatos de vários episódios do livro! Agora, através dessas páginas, muitas outras pessoas também poderiam encontrar inspiração.

 

Sister Parvati

Lembro claramente quando a Autobiografia de um Iogue foi lançada. Algum tempo depois, pedi a Paramahansaji que escrevesse um pensamento em meu livro. Ele escreveu: “Encontre o Infinito oculto no altar destas páginas.” Sempre que preciso de algo específico, abro a Autobiografia ao acaso e vejo um trecho que não lembro de ter lido antes! E de um modo ou outro, sempre trata exatamente do tema que preciso naquele momento. Mesmo que eu não soubesse onde procurar, o certo é que diante de meus olhos surge o que estou precisando naquele momento. Comprovei que o conselho do Mestre é totalmente certo: é possível encontrar o Infinito oculto no altar destas páginas.

«Este livro será meu mensageiro (…)” Com estas palavras Paramahansa Yogananda profetizou o papel que desempenharia a Autobiografia de um Iogue: atrair almas do mundo todo para o caminho sagrado da Kriya Yoga, um ensinamento que ele tinha a incumbência de difundir. Dentre as inúmeras almas para quem o livro foi realmente o mensageiro do Guru enquanto ele estava vivo ou depois, apresentamos três testemunhos.

 

Brother Anandamoy

Quando eu tinha 13 ou 14 anos, passei as férias de verão na casa de uns tios que viviam no subúrbio de Winterthur, uma das principais cidades da Suíça. Meu tio tocava em uma orquestra sinfônica, mas também estava de férias e aproveitou aqueles dias para cuidar de seu vasto jardim, tendo a mim como ajudante. Ele não tinha filhos e por isso se interessava por mim e por minha educação. Enquanto trabalhávamos no jardim, tínhamos longas conversas.

Meu tio se sentia muito atraído pela filosofia oriental. Totalmente concentrado, eu escutava suas explicações sobre karma, reencarnação, plano astral e causal, especialmente quando ele elogiava os grandes mestres – grandes santos – iluminados. Ele falava de Buda, que havia atingido este abençoado nível, e de outros santos. Falava de tal modo que despertou em mim o profundo desejo de seguir seu exemplo. Lembro que naquela época eu ficava repetindo de tempos em tempos: iluminação, iluminação. É claro que eu não entendia muito bem o significado da palavra, mas sentia que era algo muito superior ao que qualquer homem comum podia conseguir, independentemente de suas conquistas materiais ou artísticas.

Perguntei a meu tio como poderia alcançar esse estado, mas ele não sabia; só sabia que era necessário meditar e ter um guru que conhecesse tudo. Quando manifestei meu ardoroso desejo de conhecer um guru, meu tio balançou a cabeça com pena e disse, sorrindo: “Pobre menino! Na Suíça não existem gurus!”

Então comecei a orar a Deus, pedindo um guru. Eu ansiava tanto por um mestre espiritual, que quando voltei para minha cidadezinha passava muitas horas na estação de trem, esperando que “ele” chegasse. Mas nada.

Depois de receber o diploma da escola secundária, trabalhei 2 anos na loja de meus pais – 2 frustrantes anos. Depois comecei minha carreira na Arte. Naquela época eu havia perdido todo o interesse pela filosofia hindu, pois achava que era impossível encontrar um guru. Três anos depois, tive a oportunidade de ampliar meus estudos com Franl Lloyd Wright, famoso arquiteto americano.

Poucos dias depois de chegar aos Estados Unidos fui visitar outro tio, que havia emigrado da Suíça na década de 20 (1920). Conversamos e em certo momento ele falou da filosofia hindu. Quando comentei que anos atrás eu tinha me interessado pelo tema, seus olhos se iluminaram e ele me levou a seu escritório. Pegou um exemplar da Autobiografia de um Iogue e indicou a fotografia de Paramahansa Yogananda na capa. Perguntou se eu já tinha ouvido falar dele. Quando respondi que não, ele disse: “É o homem mais extraordinário que já conheci. Um verdadeiro mestre!”

Surpreso, exclamei: “Você o conhece? Onde ele está? Nos Estados Unidos?”

Meu tio respondeu: “Sim, ele mora em Los Angeles.” E me contou que pouco depois de chegar aqui tinha assistido a uma série de aulas e palestras de Paramahansaji. E pensar que nos anos em que eu ansiava por um guru meu tio havia conhecido um verdadeiro mestre e tinha ouvido seus ensinamentos!

Li avidamente o livro. Foi um milagre. Fiquei tão fascinado que não percebi que aquele simples fato era um milagre, pois meus conhecimentos de inglês não eram suficientes para ler um livro. Pouco tempo antes eu havia tentado ler algumas páginas da autobiografia de Frank Lloyd Wright e tinha sido em vão; só depois de estudar inglês durante um ano é que consegui. Mas não tive dificuldade nenhuma para ler a Autobiografia de um Iogue do início ao fim.

Foi então que eu soube do fundo do coração que tinha encontrado o que queria. Resolvi estudar os ensinamentos de Paramahansa Yogananda para encontrar Deus.

Alguns meses depois de aprender um pouco mais de inglês consegui ir a Los Angeles. Tinha esperança de ver o Mestre. Quando entrei nos jardins da sede central, senti-me rodeado por uma paz indizível… uma coisa que eu jamais havia experimentado antes, em nenhum outro lugar. Eu sabia que estava pisando em terreno sagrado.

No domingo de manhã fui ao serviço conduzido por Paramahansaji no Templo de Hollywood. Foi a primeira vez que o vi em pessoa. Uma experiência inesquecível! Quando terminou, o Mestre sentou numa poltrona e a maioria dos presentes foi cumprimentá-lo. Não tenho palavras para expressar o que senti enquanto estava na fila. Por fim, quando cheguei à sua frente, ele colocou minhas mãos entre as suas; olhei em seus olhos, olhos profundos e radiantes que me olhavam com muita ternura. Não dissemos uma só palavra. Mas logo me senti pleno de uma bem-aventurança indescritível que chegou a mim através de suas mãos e de seu olhar.

Saí do templo meio tonto e caminhei pela Sunset Street. Estava tão eufórico que não conseguia caminhar direito. Eu cambaleava como se estivesse embriagado. Além disso, eu dava gargalhadas porque minha alegria transbordava. As pessoas que iam à minha frente na calçada se viravam e me olhavam e as pessoas que vinham em minha direção se afastavam, balançando a cabeça com reprovação pelo espetáculo de bebedeira que acreditavam estar vendo num domingo de manhã. Nada disso me importava. Eu nunca tinha me sentido tão feliz. Pouco tempo depois, entrei como monge para o ashram da Self-Realization Fellowship.

 

Brother Premamoy

Brother Premamoy foi monge da ordem monástica da Self-Realization Fellowship por mais de 35 anos. Durante muitos anos e até seu falecimento em 1990, ele cuidou do treinamento espiritual dos monges mais jovens. A seguinte história foi contada por ele a um grupo de monges.

Ele nasceu na Eslovênia. Pertencia a uma família aristrocrática – com parentes na realeza e em outras famílias influentes do país – mas teve que partir para o exílio quando o partido comunista subiu ao poder no fim da Segunda Guerra Mundial. Em 1950, o Departamento de Assuntos Exteriores dos Estados Unidos ofereceu-lhe a oportunidade de entrar no país como imigrante.

No outono do mesmo ano, pouco antes de embarcar para Nova York, uma velha amiga da família – Evelina Glanzmann – lhe deu um presente de despedida. Pelo formato do pacote, ele pensou que fosse uma caixa de bombons. No navio, abriu o presente para dividi-lo com os companheiros de viagem, mas qual não foi sua supresa ao encontrar um livro, a Autobiografia de um Iogue.

Ele ficou muito emocionado com o presente, mas nem por isso sentiu vontade de lê-lo. Em pequeno tinha sido um leitor insaciável, mas isso já não acontecia mais. (Mais tarde ele disse que tinha lido a maioria dos livros antes dos 15 anos.) Por outro lado, a filosofia oriental não lhe era totalmente desconhecida: na adolescência havia apreciado a leitura do Bhagavad Gita e tinha memorizado praticamente o livro todo. Por isso, ao ver o assunto da Autobiografia de um Iogue, sua primeira reação foi: “Não vou ler… não quero me prender!”

Depois de se instalar nos Estados Unidos, ele entrou para o mundo dos negócios e logo recebeu uma oferta para o cargo de secretário pessoal do secretário geral das Nações Unidas, Dag Hammarskjöld (ele renunciou ao cargo antes de ir para a Califórnia).

Os meses passavam e a Autobiografia de um Iogue continuava fechada na estante de sua casa em Nova York. Mas a sra. Glanzmann, que traduziu a obra para o italiano, perguntou-lhe várias vezes sua opinião sobre o livro. Ainda assim, ele não se animava a ler. Até que um dia ela lhe escreveu: “Diga que gosta ou que não gosta, mas diga alguma coisa!” Por acaso era 6 de março, dia de seu aniversário e ele estava refletindo sobre o que fazer da vida. Com ar pensativo, pegou o livro e começou a dar uma olhada.

Entusiasmado, leu tudo de uma só vez. Compreendeu que o autor, Paramahansa Yogananda, tinha uma percepção espiritual muito superior a qualquer outra pessoa que já havia conhecido e decidiu escrever-lhe.

A última coisa que podia imaginar quando colocou a carta no correio era que o Guru estava no penúltimo dia de sua vida na Terra. Só soube disso algum tempo depois, quando recebeu a resposta de Sri Daya Mata.

Os meses passaram, mas nem o livro, nem seu autor, saíam de seu pensamento. Quando o verão chegou, ele decidiu ir a Los Angeles para conhecer melhor os ensinamentos de Paramahansaji. Quando entrou nos jardins da Sede Central da Self-Realization Fellowship, um desconhecido de aparência jovial e com um sorriso radiante o abraçou afetuosamente, como se ele fosse um amigo há muito esperado e que agora era calorosamente recebido. Não falaram uma só palavra. Mais tarde, quando ele foi apresentado a seu novo “velho amigo”, soube que era Rajarsi Janakanansa, o então presidente da Self-Realization Fellowship!

Foi assim que o livro que Paramahansaji denominou seu “mensageiro” mais uma vez excerceu um efeito mágico, pois a partir daquele momento estabeleceu-se claramente o curso que seguiria a vida de Brother Premamoy.

 

Sister Shanti

Em 1952 eu trabalhava como secretária do vice-diretor do Hotel Embassador de Los Angeles, situado na Wilshire Street. Era um trabalho fascinante num ambiente seleto, que me permitiu conhecer algumas personalidades de fama mundial. Mas nunca imaginei que um simples nome falado em meus ouvidos pudesse causar tanto impacto em minha vida.

No dia 6 de março, o secretário de um produtor de filmes telefonou para o hotel e deixou um recado para Paramahansa Yogananda. Este nome ecoou em meu peito como um sino e minha cabeça começou a rodar; ao mesmo tempo, fui preenchida por imensa be-aventurança. Um pouco cambaleante, fui até a recepção para transmitir a mensagem. Ali me informaram que o embaixador da Índia e sua comitiva estavam hospedados no hotel, mas não havia ninguém registrado com o nome que eu mencionava. Voltei para meu escritório e as palavras “Paramahansa Yogananda” continuavam girando em minha cabeça – e produziam um sentimento cada vez maior de amor e felicidade. Depois de alguns momentos, o produtor de filmes voltou a telefonar e perguntou: “Para quem era o recado que meu secretário lhe passou há pouco?” Respondi: “Para Paramahansa Yogananda”. Ele exclamou: “Bem me pareceu ter ouvido isso! Mas não é para ele o recado e meu secretário sabe disso. Na verdade, ele nem sabe porque disse este nome!”

Durante o resto do dia permaneci com uma rara sensação de percepção interna e também com a impressão de estar profundamente unida a esse nome. Veio o dia 7 de março, dia fatídico do mahasamadhi de Paramahansa Yogananda. Li a notícia no jornal no dia seguinte e senti como se perdesse meu melhor amigo. Para mim foi uma notícia demolidora, como se minha vida houvesse acabado de repente! Eu só conseguia pensar: “Ele se foi! Eu o esperei a vida toda e agora ele se foi!” Mas eu não sabia muito bem porque pensava isto, pois na verdade eu nunca havia procurado nenhum mestre, nem tratado se seguir um caminho espiritual. Mesmo assim, no fundo do coração eu sabia que certamente havia perdido a pessoa mais importante em minha vida.

A partir daquele momento, a vida ordenada e muito agradável que eu levava não me interessou mais. Cancelei imediatamente alguns planos importantes, me afastei dos amigos e comecei minha busca através da leitura. Nem por um momento pensei em verificar se Paramahansa Yogananda havia escrito alguma coisa. Eu simplesmente lamentava sua partida e a falta de oportunidade de tê-lo conhecido. Li 4 livros sobre metafísica que retirei da biblioteca pública de Hollywood e que não saciaram a profunda necessidade de minha alma. Voltei à biblioteca para procurar mais no mesmo setor. Minha mãe, um pouco contagiada por meu fervor, me acompanhou. Pois bem: quando eu chegava ao final da seção de metafísica, que eu achava que já havia examinado com todo o cuidado, de repente um livro caiu de uma estante mais alta, atingiu minha cabeça e caiu no chão. Minha mãe o pegou e me mostrou, com um suspiro: Autobiografia de um Iogue, de Paramahansa Yogananda. Ali estava, diante de mim, o nome pelo qual meu coração ansiava e o rosto cujo olhar ia até o fundo da alma!

Eu lia o livro de noite e minha mãe de dia, enquanto eu estava no trabalho. Talvez “ler”  não seja a palavra mais adequada para descrever como ficamos absortas na experiência de entrar no mundo da verdade: a origem da vida, o discipulado, a ciência da Kriya Yoga… tudo era explicado claramente na Autobiografia de um Iogue.

Assistimos a um dos serviços do templo de Hollywood e senti a mesma “presença” dinâmica que me envolveu quando ouvi o nome do Guru pela primeira vez pelo telefone. Quando terminou o serviço, Meera Mata nos cumprimentou gentilmente, conversou um pouco conosco e sugeriu que eu fosse até Mount Washington conhecer sua filha, Mrinalini Mata. Na sede central ouvimos falar da ordem monástica e… pela terceira vez fiquei “encantada”! Primeiro por Paramahansa Yogananda, depois pela Autobiografia de um Iogue e agora pelo ideal de uma vida de renúncia entregue unicamente a Deus.

Contei o que havia acontecido comingo no dia 6 de março quando ouvi o nome de Paramahansa Yogananda pela primeira vez, isto é, o efeito que seu nome havia causado em mim. Soube que ele estava no hotel Ambassador naquela hora, num café da manhã em homenagem ao embaixador da Índia, Sua Excelência Binay R. Sen. O café da manhã tinha sido no salão ao lado de meu escritório. Quando atendi o telefonema e escutei seu nome, o Mestre estava sentado exatamente do outro lado da parede em que minha mesa de trabalho ficava encostada.

O Guru chama os “seus” através de sua magnífica autobiografia. Alguns levam muito tempo para perceber isso e precisam de uma pancada na cabeça, como no meu caso! Mas felizes são os muitíssimos que escutam sua voz e respondem a seu toque de clarim!

 

Fotos de algumas monjas da Self-Realization Fellowship

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