Mensagem de Páscoa de 2018 – Brother Chidananda da Self-Realization

2018 – Mensagem de Páscoa de Irmão Chidananda

Jesus ChristQue este seja o dia de seu próprio despertar em Cristo. (…) Você pode praticar esta ressurreição a cada dia de sua vida. Esqueça suas antigas fraquezas e dificuldades. Pense apenas: “Cristo ressuscitou, e eu ressuscito com ele. Não sou mais meu antigo eu.”

Paramahansa Yogananda

A ressurreição de Jesus Cristo é um radiante farol de esperança e alegria para toda a humanidade, pois nos traz a certeza da verdade – que expande a consciência – de que cada um de nós é uma alma imortal e invencível, destinada a abandonar o cativeiro da ilusão mortal e a refletir nossa inata natureza divina. A vida de Jesus e o seu triunfo sobre a morte são um chamado a todos nós para que ressuscitemos a liberdade de nossa própria alma dos ditames dos sentidos e hábitos e das limitações da consciência do ego, a fim de que possamos viver como ele viveu – na luz infinita e no amor incondicional da Consciência Crística universal.

Em cada um de nós existe o impulso de manifestar nosso mais elevado potencial – de sentir novamente nossa inata alegria, ilimitada liberdade e onipotência, esquecidas em meio ao nosso envolvimento com maya-ilusão. O exemplo de Jesus, e de outros que também expressaram a Consciência Crística, recorda-nos que podemos ressuscitar diariamente da ilusão de ser vítimas indefesas das dualidades sempre cambiantes deste mundo. Essa ressurreição tem início em nosso interior – no modo de reagir às circunstâncias da vida cotidiana. Que sentimento de liberdade alcançamos ao ressuscitar o poder de nossa vontade da submissão passiva aos impulsos do ego, determinando em vez disso nossa conduta em cada situação de acordo com a sabedoria da alma! E nos períodos em que temos cruzes a suportar, se as consideramos não como obstáculos mas como oportunidades de ressuscitar as qualidades heroicas da alma, desenvolvemos grande poder espiritual e fé.

A mais bela transformação acontece em nossa consciência à medida que expandimos cada vez mais nosso amor e interesse pelos outros, para além dos estreitos limites do ego, estendendo a mão para ajudá-los. Nosso guru, Paramahansa Yogananda, disse: “Por meio de cada ato de bondade e boa ação que realiza, você está sendo ressuscitado; e fica imediatamente em sintonia com a consciência divina de Cristo”. Como nossos corações são profundamente tocados pela compaixão que Jesus expressou! Ele olhava para além das falhas das pessoas e nelas contemplava a centelha divina, mesmo nas que lhe eram hostis. À medida que também nós procuramos o bem nos outros e nos esforçamos por trazer à luz esse bem, estamos seguindo o caminho que ele indicou para que possamos viver nesse amor crístico incondicional e todo-envolvente, o qual é o poder transformador mais forte de que dispomos para mudar a nós mesmos, mudar os outros e, por fim, mudar o mundo.

Divinos pensamentos e ações conduzem à ressurreição da consciência humana para a consciência divina. Mas para sentir plenamente a fonte ilimitada do amor de Deus e da alegria que ampararam Jesus em sua missão, precisamos experimentar, nas silenciosas profundezas de nossa própria alma, a bem-aventurada consciência que ele possuía. Gurudeva prometeu: “Se você tentar transpor o nevoeiro da inquietude por meio da meditação profunda, então verá que alcançou o vasto e luminoso reino de eterna felicidade da alma dentro de si. Essa é a ressurreição que desejo que você experimente.” Com todo o meu coração, estou orando para que esta Páscoa possa trazer de modo tangível a realização desses votos do Guru para vocês.

Uma Páscoa abençoada e alegre para vocês e os que lhes são caros,

Irmão Chidananda

Mensagem de Natal de 2017 – Brother Chidananda

Durante o período natalino, celebre o nascimento do Cristo no berço de sua consciência. Que a vasta percepção do Cristo no seio da Natureza, no espaço e no amor universal seja sentida dentro de seu coração.

Paramahansa Yogananda

Que a luz e a alegria da época sagrada do Natal inspirem seus corações com uma renovada percepção do amor de Deus e com fé no poder harmonizador e transformante desse amor na sua própria vida e no mundo. Cada um de nós pode experimentar de modo tangível a dimensão interior e sagrada deste período de festividades exteriores ao fazer um esforço especial para tornar o coração receptivo às qualidades divinas exemplificadas pelo amado Senhor Jesus – e especialmente ao meditar com profundidade, tal como nos incentivava o nosso guru Paramahansa Yogananda, a fim de receber a luz e o amor universal de Cristo em nossa própria consciência. Ao unirmos nossa devoção nesse esforço durante esta época sagrada – onde quer que estejamos neste mundo –, receberemos plenamente as verdadeiras bênçãos do Natal.

Por meio de Jesus Cristo e de outras grandes almas, Deus Se manifesta em forma humana neste mundo para compartilhar nossas alegrias e tristezas, oferecer-nos ajuda compassiva em nossas dificuldades e, pelo exemplo, incitar em nós coragem e determinação para reivindicar nossa herança divina. Como nos disse Guruji: “A verdadeira comemoração do Natal é sentir na própria consciência o nascimento da Consciência Crística”. Este Natal pode ser para vocês um novo começo, um despertar do sonho de que são frágeis seres humanos para a realidade da inata divindade de sua alma. Quaisquer pensamentos e hábitos limitantes que estejam retardando o seu progresso são sonhos ilusórios impostos à sua consciência por maya. Eles serão dissolvidos pelo poder de seu livre-arbítrio e pela graça de Deus à medida que sigam com paciência e perseverança os caminhos da humildade, do amor e da comunhão divina – que expandem a consciência e foram demonstrados por Cristo e pelos Grandes Mestres. Se depositarem sua confiança em Deus e libertarem a mente e o coração de medos e preocupações, a calma e a paz de Cristo fluirão à sua consciência – trazendo-lhes a certeza interior do poder de Deus que os sustenta e de Sua luz que tudo pode curar. E a cada esforço que façam para irradiar amor e bondade, para perceber e estimular o bem nos demais e para encontrar sua alegria no serviço altruísta aos outros, assim com Jesus o fez, vocês descobrirão a felicidade interior e a sintonia com o Infinito a que Paramahansaji se referiu ao dizer: “Em todo bom pensamento está o lar secreto de Cristo”.

O Cristo universal vive em nós quando nos esforçamos para refletir as qualidades divinas em nossa vida. Mas, para experimentar em plenitude a realidade dessa consciência infinita, precisamos penetrar no templo sagrado da comunhão silenciosa, nas profundezas de nossa alma, onde nos é possível sentir o poder transformante de Seu amor a permear nosso ser. Foi essa comunhão interior com o Pai Celestial que deu a Jesus a força e a coragem para cumprir sua missão e um amor que transcendeu todas as limitações mortais. Cada alma que comece a sentir essa presença interior, e a perceber Deus em todos, torna-se uma parte consciente da grande luz da Consciência Crística em que Jesus viveu – uma luz que tem o poder para trazer harmonia e boa vontade sempre crescentes a este mundo, ao atrair cada vez mais almas ao abraço tangível do amor de Deus.

Que neste Natal a percepção desse amor divino seja a bênção de Deus para vocês e os que lhes são caros,
Irmão Chidananda

Histórias dos Monges da SRF – Descobrindo a Autobiografia de um Iogue

Descobrindo a Autobiografia de um Iogue

Lembranças de alguns discípulos de Paramahansa Yogananda.

Em dezembro de 1946 a editora de Nova York enviou os primeiros exemplares da Autobiografia de um Iogue para a sede internacional da Self-Realization Fellowship.

Em 1996, com a comemoração do cinquentenário da primeira edição, alguns dos discípulos mais antigos e mais próximos de Paramahansa Yogananda recordaram as circunstâncias em que conheceram o livro e o impacto que sentiram. Foram os primeiros a experimentar a sabedoria, o amor divino e a visão transformadora que as páginas do livro irradiam – livro que desde aquela época vem mudando a existência de milhões de pessoas.

 

 

Sri Daya Mata

Paramahansaji trabalhou na redação da Autobiografia de um Iogue durante muitos anos. Quando cheguei a Mount Washington em 1931, ele já tinha iniciado o livro. Certa ocasião, eu estava em seu escritório cumprindo algumas tarefas como secretária e tive o privilégio de ver um dos primeiros capítulos: o que se referia ao “swami dos tigres”. Gurudeva pediu que eu o guardasse, indicando que era material para um livro.
Mas a maior parte da obra foi escrita de 1937 a 1945. Paramahansaji tinha tantas responsabilidades e obrigações que não podia trabalhar todos os dias na Autobiografia. Mesmo assim, em geral ele dedicava as primeiras horas da noite e todo tempo livre que tivesse para trabalhar no livo. Na época, um pequeno grupo de discípulas – Ananda Mata (ver foto abaixo), Shradda Mata e eu – estava sempre à sua disposição para ajudá-lo. Depois que cada capítulo era datilografado, Gurudeva o entregava a Tara Mata, que cumpria as funções de editora.
Um dia, enquanto trabalhava na autobiografia, o Guru nos disse: “Quando eu abandonar o mundo, este livro mudará a vida de milhões de pessoas; será meu mensageiro depois que eu partir.”
Ao terminar o manuscrito, a responsabilidade de encontrar uma editora foi entregue a Tara Mata, que levou o livro para Nova York. Paramahansaji tinha em alta estima a capacidade e os conhecimentos de Tara Mata para revisar e corrigir textos e era comum elogiá-la abertamente. Ele disse: “O que ela fez por este livro é quase impossível de descrever. Ela estava gravemente doente antes de ir para Nova York; mesmo assim, fez a viagem. Se não fosse por ela, o livro não teria sido publicado.”

Não há palavras que descrevam a alegria e felicidade de Gurudeva quando viu a obra terminada. Dedicou um exemplar a cada um dos muitos devotos que viviam nos ashrams. Como eu tinha ajudado a datilografar o manuscrito, quando recebi meu exemplar já sabia que se tratava de uma obra imortal, um livro que pela primeira vez revelava algumas verdades ocultas à maioria das pessoas; verdades nunca antes apresentadas de modo tão diáfano e inspirador. Nenhum outro autor havia explicado conceitos como a lei dos milagres, a reencarnação, o karma, a vida após a morte e outras verdades maravilhosas com a mesma clareza de Guruji.

Hoje em dia, como reagiria ele perante o êxito do livro? Sem dúvida ficaria humildemente comovido ao ver que a Autobiografia de um Iogue chegou a todos os cantos do mundo, a pessoas de todas as idades, das mais diferentes culturas, raças e religiões e que foi acolhido com muitos elogios e enorme entusiasmo ao longo dos últimos cinquenta anos. Guruji nunca foi convencido. Em absoluto. Mas nem por isso deixava de reconhecer o valor do que tinha escrito, pois sabia que era a expressão da verdade.

 

Tara Mata

Dedicatória no exemplar da Autobiografia de um Iogue que Paramahansaji presenteou a Tara Mata (Laurie
Pratt). Nos “Agradecimentos do autor” ele presta homenagem ao trabalho editorial de Tara Mata e na dedicatória atesta o valor do magnífico serviço prestado pela estimada discípula.

 

Para Laurie Pratt

«Que Deus e os Gurus sempre a abençoem pelo papel amoroso e valente que você desempenhou na realização deste livro. P.Y.».

«Finalmente a sagrada fragância de Deus, de meus gurus e dos mestres brotou das portas secretas de minha alma, após superar inúmeros obstáculos e graças aos constantes esforços de Laurie Pratt e de outros discípulos. Toda a lenha das dificuldades ardeu na chama eterna da bem-aventurança.”

 

Mrinalini Mata

Foi numa tarde ao final do ano de 1946. Nós, os devotos mais jovens, estávamos na cozinha do eremitério de Encinitas cumprindo nossos deveres, quando de repente Gurudeva apareceu na porta. Paramos imediatamente as atividades. Seu imenso sorriso chamava a atenção e percebemos que em seus olhos havia um brilho mais bonito do que o habitual. Ele escondia algo atrás do corpo. Chamou os que estavam mais longe e quando chegamos todos bem perto, ele mostrou o tesouro escondido: um exemplar de seu livro, a Autobiografia de um Iogue, que havia chegado. Nossas exclamações mal conseguiam expressar a imensa alegria que sentimos, quando finalmente vimos a tão esperada obra que contava sua vida na Índia entre grandes santos e sábios; histórias que tantas vezes haviam cativado nossa atenção nas preciosas horas passadas em sua companhia. Ele mostrou algumas páginas, deixando a ilustração de Mahavatar Babaji para o final. Quase sem respirar, manifestamos nosso respeito. Sabíamos que era uma grande bênção ser os primeiros a contemplar a imagem de nosso param-param-paramguru.

No início de dezembro, fomos chamados a Mount Washington para desembrulhar as volumosas caixas enviadas pela editora e preparar as remessas para centenas de devotos que aguardavam ansiosamente o livro. Com várias semanas de antecedência, em nosso tempo livre tínhamos datilografado os endereços em etiquetas adesivas, usando a velha máquina de escrever. Colocamos mesas enormes no escritório (tábuas simples apoiadas em cavaletes) e formamos uma espécie de linha de montagem: o papel de embrulho vinha num rolo imenso e tínhamos que cortá-lo a mão, na medida certa para embrulhar livro por livro. Depois colávamos em cada pacote a etiqueta e os selos, previamente umedecidos numa esponja molhada. Naquela época não tínhamos máquinas para embalagem ou selagem automática! Mas que alegria participar de um acontecimento que seria inesquecível para a história da Self-Realization Fellowship! O mundo inteiro conheceria nosso abençoado Mestre através deste sublime embaixador.

Na sala de estar do segundo piso, Gurudeva sentou-se diante da mesa e assinou todos os livros. Fez isso muitas horas sem parar, sem descansar. Os livros eram tirados das caixas, abertos e colocados diante dele, num fluxo incessante de autógrafos e acabando a tinta de várias canetas.

Já era tarde quando ele me mandou subir. Continuava assinando os livros. Os discípulos mais velhos insistiam para que descansasse um pouco, mas ele continuou até a última assinatura, que colocava junto com uma bênção, no último livro daquela remessa. Seu rosto resplandecia com a expressão mais venturosa que se possa imaginar, como se através das páginas ele enviasse uma parte de si mesmo e de seu amor por Deus – e isso não deveria tardar nem um segundo a mais.

Com alegria inefável, sentamos a seus pés e meditamos até altas horas da madrugada. Cada um de nós havia recebido das mãos do Mestre um exemplar do precioso tesouro. Muitíssimos livros já estavam preparados para o envio pelo correio no dia seguinte ou tinham sido embrulhados para serem levados aos templos de Hollywood e San Diego.

A Autobiografia de um Iogue se encaminhava assim a seu destino divino, levando as bênçãos do Guru e seu amor a Deus a milhões de buscadores da Verdade.

 

Sailasuta Mata

Paramahansaji escreveu a maior parte da Autobiografia de um Iogue – projeto que levou vários anos para completar – no eremitério de Encinitas. Naquela época havia poucos discípulos residindo ali e eu estava entre eles.

Guruji trabalhava em seu apartamento com a ajuda de Daya Mata e Ananda Mata como secretárias; elas escreviam a máquina ou taquigrafavam o que o Mestre ditava. Lembro que algumas ocasiões ele passava a noite toda ditando e às vezes também entrava no dia seguinte e por aí vai. Minha tarefa era diferente: eu devia preparar a comida para que pudessem trabalhar sem interrupção!

Quando os primeiros exemplares da Autobiografia de um Iogue chegaram da editora, houve grande alegria entre nós. Guruji queria que mandássemos logo o livro a todas as pessoas que o tinham encomendado com antecedência! Foi assim que depois dos primeiros momentos de alegria, ficamos atarefados preparando os muitos pedidos pendentes. Sister Shila e eu embrulhamos muitos livros, selamos os pacotes e deixamos tudo preparado. Depois fomos até o carro, abrimos o porta-malas e todas as portas e o enchemos até em cima. Então levamos os pacotes ao Correio Central de Los Angeles. Estávamos muito contentes. Finalmente a Autobiografia de um Iogue estaria disponível para todos, em qualquer lugar!

 

Brother Bhaktananda

Em 1939, pouco tempo depois de eu entrar para o ashram, um dia Paramahansaji conversava com alguns de nós no saguão do edifício da sede central em Mount Washington. Ele comentou que Deus lhe havia revelado que durante seu tempo de vida na Terra ele teria que escrever certos livros e que depois de escrevê-los sua missão estaria cumprida. Um deles era a Autobiografia de um Iogue. Quando o livro foi publicado, eu o li do começo ao fim em poucos dias. Achei o livro maravilhoso e inspirador! Lembro que já naquela época pensei que o livro teria um papel importante no trabalho de despertar o interesse pelos ensinamentos de Paramahansaji. Até agora só vimos a ponta do iceberg.

 

Uma Mata

Quando conheci Paramahansa Yogananda em 1943, eu tinha 9 anos. Meu pai era membro da Self-Realization Fellowship e assistia regularmente os serviços do templo de San Diego. Ele era muito reservado e nunca tentou convencer a ninguém de suas crenças, nem mesmo a mim; jamais me mostrou o exemplar da Autobiografia de um Iogue que tinha recebido de presente de Paramahansaji. Quando descobri o livro por acaso em 1947 demorei um pouco para lê-lo, pois eu era bem jovem e havia palavras muito complicadas! Apesar disso, desde o primeiro momento o livro foi um refúgio para mim, um bálsamo para a alma. Acima de tudo, a Autobiografia de um Iogue nos mostra, que é possível conhecer Deus.

 

Mukti Mata

Lembro muito bem o primeiro Natal que passei no ashram, em 1946. Paramahansaji tinha terminado de escrever a Autobiografia de um Iogue e deu um exemplar de presente a cada um dos residentes. As páginas do livro refletiam com muita força a personalidade viva e encantadora de nosso Guru – o amor e a alegria que sentíamos quando estávamos em sua presença. Quanta inspiração sentíamos ao ouvir pessoalmente os relatos de vários episódios do livro! Agora, através dessas páginas, muitas outras pessoas também poderiam encontrar inspiração.

 

Sister Parvati

Lembro claramente quando a Autobiografia de um Iogue foi lançada. Algum tempo depois, pedi a Paramahansaji que escrevesse um pensamento em meu livro. Ele escreveu: “Encontre o Infinito oculto no altar destas páginas.” Sempre que preciso de algo específico, abro a Autobiografia ao acaso e vejo um trecho que não lembro de ter lido antes! E de um modo ou outro, sempre trata exatamente do tema que preciso naquele momento. Mesmo que eu não soubesse onde procurar, o certo é que diante de meus olhos surge o que estou precisando naquele momento. Comprovei que o conselho do Mestre é totalmente certo: é possível encontrar o Infinito oculto no altar destas páginas.

«Este livro será meu mensageiro (…)” Com estas palavras Paramahansa Yogananda profetizou o papel que desempenharia a Autobiografia de um Iogue: atrair almas do mundo todo para o caminho sagrado da Kriya Yoga, um ensinamento que ele tinha a incumbência de difundir. Dentre as inúmeras almas para quem o livro foi realmente o mensageiro do Guru enquanto ele estava vivo ou depois, apresentamos três testemunhos.

 

Brother Anandamoy

Quando eu tinha 13 ou 14 anos, passei as férias de verão na casa de uns tios que viviam no subúrbio de Winterthur, uma das principais cidades da Suíça. Meu tio tocava em uma orquestra sinfônica, mas também estava de férias e aproveitou aqueles dias para cuidar de seu vasto jardim, tendo a mim como ajudante. Ele não tinha filhos e por isso se interessava por mim e por minha educação. Enquanto trabalhávamos no jardim, tínhamos longas conversas.

Meu tio se sentia muito atraído pela filosofia oriental. Totalmente concentrado, eu escutava suas explicações sobre karma, reencarnação, plano astral e causal, especialmente quando ele elogiava os grandes mestres – grandes santos – iluminados. Ele falava de Buda, que havia atingido este abençoado nível, e de outros santos. Falava de tal modo que despertou em mim o profundo desejo de seguir seu exemplo. Lembro que naquela época eu ficava repetindo de tempos em tempos: iluminação, iluminação. É claro que eu não entendia muito bem o significado da palavra, mas sentia que era algo muito superior ao que qualquer homem comum podia conseguir, independentemente de suas conquistas materiais ou artísticas.

Perguntei a meu tio como poderia alcançar esse estado, mas ele não sabia; só sabia que era necessário meditar e ter um guru que conhecesse tudo. Quando manifestei meu ardoroso desejo de conhecer um guru, meu tio balançou a cabeça com pena e disse, sorrindo: “Pobre menino! Na Suíça não existem gurus!”

Então comecei a orar a Deus, pedindo um guru. Eu ansiava tanto por um mestre espiritual, que quando voltei para minha cidadezinha passava muitas horas na estação de trem, esperando que “ele” chegasse. Mas nada.

Depois de receber o diploma da escola secundária, trabalhei 2 anos na loja de meus pais – 2 frustrantes anos. Depois comecei minha carreira na Arte. Naquela época eu havia perdido todo o interesse pela filosofia hindu, pois achava que era impossível encontrar um guru. Três anos depois, tive a oportunidade de ampliar meus estudos com Franl Lloyd Wright, famoso arquiteto americano.

Poucos dias depois de chegar aos Estados Unidos fui visitar outro tio, que havia emigrado da Suíça na década de 20 (1920). Conversamos e em certo momento ele falou da filosofia hindu. Quando comentei que anos atrás eu tinha me interessado pelo tema, seus olhos se iluminaram e ele me levou a seu escritório. Pegou um exemplar da Autobiografia de um Iogue e indicou a fotografia de Paramahansa Yogananda na capa. Perguntou se eu já tinha ouvido falar dele. Quando respondi que não, ele disse: “É o homem mais extraordinário que já conheci. Um verdadeiro mestre!”

Surpreso, exclamei: “Você o conhece? Onde ele está? Nos Estados Unidos?”

Meu tio respondeu: “Sim, ele mora em Los Angeles.” E me contou que pouco depois de chegar aqui tinha assistido a uma série de aulas e palestras de Paramahansaji. E pensar que nos anos em que eu ansiava por um guru meu tio havia conhecido um verdadeiro mestre e tinha ouvido seus ensinamentos!

Li avidamente o livro. Foi um milagre. Fiquei tão fascinado que não percebi que aquele simples fato era um milagre, pois meus conhecimentos de inglês não eram suficientes para ler um livro. Pouco tempo antes eu havia tentado ler algumas páginas da autobiografia de Frank Lloyd Wright e tinha sido em vão; só depois de estudar inglês durante um ano é que consegui. Mas não tive dificuldade nenhuma para ler a Autobiografia de um Iogue do início ao fim.

Foi então que eu soube do fundo do coração que tinha encontrado o que queria. Resolvi estudar os ensinamentos de Paramahansa Yogananda para encontrar Deus.

Alguns meses depois de aprender um pouco mais de inglês consegui ir a Los Angeles. Tinha esperança de ver o Mestre. Quando entrei nos jardins da sede central, senti-me rodeado por uma paz indizível… uma coisa que eu jamais havia experimentado antes, em nenhum outro lugar. Eu sabia que estava pisando em terreno sagrado.

No domingo de manhã fui ao serviço conduzido por Paramahansaji no Templo de Hollywood. Foi a primeira vez que o vi em pessoa. Uma experiência inesquecível! Quando terminou, o Mestre sentou numa poltrona e a maioria dos presentes foi cumprimentá-lo. Não tenho palavras para expressar o que senti enquanto estava na fila. Por fim, quando cheguei à sua frente, ele colocou minhas mãos entre as suas; olhei em seus olhos, olhos profundos e radiantes que me olhavam com muita ternura. Não dissemos uma só palavra. Mas logo me senti pleno de uma bem-aventurança indescritível que chegou a mim através de suas mãos e de seu olhar.

Saí do templo meio tonto e caminhei pela Sunset Street. Estava tão eufórico que não conseguia caminhar direito. Eu cambaleava como se estivesse embriagado. Além disso, eu dava gargalhadas porque minha alegria transbordava. As pessoas que iam à minha frente na calçada se viravam e me olhavam e as pessoas que vinham em minha direção se afastavam, balançando a cabeça com reprovação pelo espetáculo de bebedeira que acreditavam estar vendo num domingo de manhã. Nada disso me importava. Eu nunca tinha me sentido tão feliz. Pouco tempo depois, entrei como monge para o ashram da Self-Realization Fellowship.

 

Brother Premamoy

Brother Premamoy foi monge da ordem monástica da Self-Realization Fellowship por mais de 35 anos. Durante muitos anos e até seu falecimento em 1990, ele cuidou do treinamento espiritual dos monges mais jovens. A seguinte história foi contada por ele a um grupo de monges.

Ele nasceu na Eslovênia. Pertencia a uma família aristrocrática – com parentes na realeza e em outras famílias influentes do país – mas teve que partir para o exílio quando o partido comunista subiu ao poder no fim da Segunda Guerra Mundial. Em 1950, o Departamento de Assuntos Exteriores dos Estados Unidos ofereceu-lhe a oportunidade de entrar no país como imigrante.

No outono do mesmo ano, pouco antes de embarcar para Nova York, uma velha amiga da família – Evelina Glanzmann – lhe deu um presente de despedida. Pelo formato do pacote, ele pensou que fosse uma caixa de bombons. No navio, abriu o presente para dividi-lo com os companheiros de viagem, mas qual não foi sua supresa ao encontrar um livro, a Autobiografia de um Iogue.

Ele ficou muito emocionado com o presente, mas nem por isso sentiu vontade de lê-lo. Em pequeno tinha sido um leitor insaciável, mas isso já não acontecia mais. (Mais tarde ele disse que tinha lido a maioria dos livros antes dos 15 anos.) Por outro lado, a filosofia oriental não lhe era totalmente desconhecida: na adolescência havia apreciado a leitura do Bhagavad Gita e tinha memorizado praticamente o livro todo. Por isso, ao ver o assunto da Autobiografia de um Iogue, sua primeira reação foi: “Não vou ler… não quero me prender!”

Depois de se instalar nos Estados Unidos, ele entrou para o mundo dos negócios e logo recebeu uma oferta para o cargo de secretário pessoal do secretário geral das Nações Unidas, Dag Hammarskjöld (ele renunciou ao cargo antes de ir para a Califórnia).

Os meses passavam e a Autobiografia de um Iogue continuava fechada na estante de sua casa em Nova York. Mas a sra. Glanzmann, que traduziu a obra para o italiano, perguntou-lhe várias vezes sua opinião sobre o livro. Ainda assim, ele não se animava a ler. Até que um dia ela lhe escreveu: “Diga que gosta ou que não gosta, mas diga alguma coisa!” Por acaso era 6 de março, dia de seu aniversário e ele estava refletindo sobre o que fazer da vida. Com ar pensativo, pegou o livro e começou a dar uma olhada.

Entusiasmado, leu tudo de uma só vez. Compreendeu que o autor, Paramahansa Yogananda, tinha uma percepção espiritual muito superior a qualquer outra pessoa que já havia conhecido e decidiu escrever-lhe.

A última coisa que podia imaginar quando colocou a carta no correio era que o Guru estava no penúltimo dia de sua vida na Terra. Só soube disso algum tempo depois, quando recebeu a resposta de Sri Daya Mata.

Os meses passaram, mas nem o livro, nem seu autor, saíam de seu pensamento. Quando o verão chegou, ele decidiu ir a Los Angeles para conhecer melhor os ensinamentos de Paramahansaji. Quando entrou nos jardins da Sede Central da Self-Realization Fellowship, um desconhecido de aparência jovial e com um sorriso radiante o abraçou afetuosamente, como se ele fosse um amigo há muito esperado e que agora era calorosamente recebido. Não falaram uma só palavra. Mais tarde, quando ele foi apresentado a seu novo “velho amigo”, soube que era Rajarsi Janakanansa, o então presidente da Self-Realization Fellowship!

Foi assim que o livro que Paramahansaji denominou seu “mensageiro” mais uma vez excerceu um efeito mágico, pois a partir daquele momento estabeleceu-se claramente o curso que seguiria a vida de Brother Premamoy.

 

Sister Shanti

Em 1952 eu trabalhava como secretária do vice-diretor do Hotel Embassador de Los Angeles, situado na Wilshire Street. Era um trabalho fascinante num ambiente seleto, que me permitiu conhecer algumas personalidades de fama mundial. Mas nunca imaginei que um simples nome falado em meus ouvidos pudesse causar tanto impacto em minha vida.

No dia 6 de março, o secretário de um produtor de filmes telefonou para o hotel e deixou um recado para Paramahansa Yogananda. Este nome ecoou em meu peito como um sino e minha cabeça começou a rodar; ao mesmo tempo, fui preenchida por imensa be-aventurança. Um pouco cambaleante, fui até a recepção para transmitir a mensagem. Ali me informaram que o embaixador da Índia e sua comitiva estavam hospedados no hotel, mas não havia ninguém registrado com o nome que eu mencionava. Voltei para meu escritório e as palavras “Paramahansa Yogananda” continuavam girando em minha cabeça – e produziam um sentimento cada vez maior de amor e felicidade. Depois de alguns momentos, o produtor de filmes voltou a telefonar e perguntou: “Para quem era o recado que meu secretário lhe passou há pouco?” Respondi: “Para Paramahansa Yogananda”. Ele exclamou: “Bem me pareceu ter ouvido isso! Mas não é para ele o recado e meu secretário sabe disso. Na verdade, ele nem sabe porque disse este nome!”

Durante o resto do dia permaneci com uma rara sensação de percepção interna e também com a impressão de estar profundamente unida a esse nome. Veio o dia 7 de março, dia fatídico do mahasamadhi de Paramahansa Yogananda. Li a notícia no jornal no dia seguinte e senti como se perdesse meu melhor amigo. Para mim foi uma notícia demolidora, como se minha vida houvesse acabado de repente! Eu só conseguia pensar: “Ele se foi! Eu o esperei a vida toda e agora ele se foi!” Mas eu não sabia muito bem porque pensava isto, pois na verdade eu nunca havia procurado nenhum mestre, nem tratado se seguir um caminho espiritual. Mesmo assim, no fundo do coração eu sabia que certamente havia perdido a pessoa mais importante em minha vida.

A partir daquele momento, a vida ordenada e muito agradável que eu levava não me interessou mais. Cancelei imediatamente alguns planos importantes, me afastei dos amigos e comecei minha busca através da leitura. Nem por um momento pensei em verificar se Paramahansa Yogananda havia escrito alguma coisa. Eu simplesmente lamentava sua partida e a falta de oportunidade de tê-lo conhecido. Li 4 livros sobre metafísica que retirei da biblioteca pública de Hollywood e que não saciaram a profunda necessidade de minha alma. Voltei à biblioteca para procurar mais no mesmo setor. Minha mãe, um pouco contagiada por meu fervor, me acompanhou. Pois bem: quando eu chegava ao final da seção de metafísica, que eu achava que já havia examinado com todo o cuidado, de repente um livro caiu de uma estante mais alta, atingiu minha cabeça e caiu no chão. Minha mãe o pegou e me mostrou, com um suspiro: Autobiografia de um Iogue, de Paramahansa Yogananda. Ali estava, diante de mim, o nome pelo qual meu coração ansiava e o rosto cujo olhar ia até o fundo da alma!

Eu lia o livro de noite e minha mãe de dia, enquanto eu estava no trabalho. Talvez “ler”  não seja a palavra mais adequada para descrever como ficamos absortas na experiência de entrar no mundo da verdade: a origem da vida, o discipulado, a ciência da Kriya Yoga… tudo era explicado claramente na Autobiografia de um Iogue.

Assistimos a um dos serviços do templo de Hollywood e senti a mesma “presença” dinâmica que me envolveu quando ouvi o nome do Guru pela primeira vez pelo telefone. Quando terminou o serviço, Meera Mata nos cumprimentou gentilmente, conversou um pouco conosco e sugeriu que eu fosse até Mount Washington conhecer sua filha, Mrinalini Mata. Na sede central ouvimos falar da ordem monástica e… pela terceira vez fiquei “encantada”! Primeiro por Paramahansa Yogananda, depois pela Autobiografia de um Iogue e agora pelo ideal de uma vida de renúncia entregue unicamente a Deus.

Contei o que havia acontecido comingo no dia 6 de março quando ouvi o nome de Paramahansa Yogananda pela primeira vez, isto é, o efeito que seu nome havia causado em mim. Soube que ele estava no hotel Ambassador naquela hora, num café da manhã em homenagem ao embaixador da Índia, Sua Excelência Binay R. Sen. O café da manhã tinha sido no salão ao lado de meu escritório. Quando atendi o telefonema e escutei seu nome, o Mestre estava sentado exatamente do outro lado da parede em que minha mesa de trabalho ficava encostada.

O Guru chama os “seus” através de sua magnífica autobiografia. Alguns levam muito tempo para perceber isso e precisam de uma pancada na cabeça, como no meu caso! Mas felizes são os muitíssimos que escutam sua voz e respondem a seu toque de clarim!

 

Fotos de algumas monjas da Self-Realization Fellowship

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Alguns Monges da Self-Realization Fellowshipmonges-srf

Em memória: Irmão Anandamoy (1922-2016)

O nosso venerado Irmão Anandamoy, discípulo direto de Paramahansa Yogananda e monge da Self-Realization Fellowship por mais de 65 anos, faleceu em paz na Sede Central Internacional da SRF, em Mount Washington, Los Angeles, na noite de terça-feira, 6 de setembro de 2016.

Ministro da SRF muito querido e profundamente respeitado, Irmão (Swami) Anandamoy inspirou e elevou milhares de pessoas com sua vida altruísta e profunda compreensão da vida espiritual e dos ensinamentos da Kriya Yoga de Paramahansa Yogananda. Deixou um legado permanente na vida espiritual de inúmeras almas em todo o mundo, a quem ele por muitos anos ajudou e incentivou no caminho para Deus.

Serviço memorial será agendado Um serviço memorial público será realizado em Los Angeles. O dia e a hora serão postados nesta página assim que os procedimentos estejam concluídos. Por enquanto, convidamos a todos a juntarem-se a nós dos ashrams de Paramahansa Yogananda e enviar ao Irmão Anandamoy nosso amor e gratidão durante a sua transição para os abençoados domínios da liberdade e da alegria divinas, regozijando-nos com sua vida inspiradora e exemplar.

Breve biografia

Anandamoy

Nascido em Zurique, na Suíça, em 1º de novembro de 1922, e batizado como Henry Schaufelberger, Irmão Anandamoy foi apresentado à filosofia oriental no começo da adolescência e logo depois começou sua busca pela iluminação espiritual. Mas como, se perguntava, poderia ele encontrar um mestre iluminado para guiá-lo?

“Depois que concluí meus estudos, trabalhei na empresa de meu pai por dois anos frustrantes”, ele recordou.  “Naquela época, havia perdido o interesse na filosofia hindu e já não tinha esperança de poder encontrar um guru. Iniciei uma carreira em artes plásticas e, após três anos, fui convidado para estudar com Frank Lloyd Wright, o famoso arquiteto, nos Estados Unidos.” Ele chegou aos EUA em 1948 e imediatamente descobriu o livro Autobiografia de um Iogue, de Paramahansa Yogananda. “Li o livro avidamente”, disse ele. “Em meu coração, sabia que havia encontrado o que queria e decidi estudar os ensinamentos de Paramahansa Yogananda e encontrar Deus.”

Alguns meses depois, Irmão Anandamoy viajou para Los Angeles na esperança de ver o grande Mestre. O primeiro encontro deles foi no final de um serviço de domingo conduzido por Paramahansaji no Templo da SRF em Hollywood. “Foi uma experiência inesquecível”, disse ele. “Após o serviço, o Mestre sentou-se numa cadeira e a maioria da congregação foi cumprimentá- lo. Finalmente, quando eu estava de pé diante dele, ele segurou minha mão e fitei aqueles olhos profundos, luminosos e ternos. Nenhuma palavra foi dita, mas eu senti uma alegria indescritível entrando em mim através de sua mão e de seus olhos.”

Irmão Anandamoy entrou no ashram da Self-Realization Fellowship como monge em 1949 e teve o privilégio de receber o treinamento pessoal de Paramahansaji até a morte do grande Guru no começo de 1952. Ele fez os votos finais de sannyas em novembro de 1957 — recebendo o nome de Anandamoy (“permeado de bem-aventurança divina”) — e foi ordenado ministro da SRF em abril de 1958, ambas as cerimônias dirigidas por Sri Daya Mata.

Durante sua longa vida como discípulo monástico, ele foi chamado a servir à obra de seu guru em numerosas e variadas maneiras. Suas primeiras atribuições incluíram trabalho de jardinagem no Santuário do Lago da Self-Realization Fellowship antes da inauguração, em 1950, ajuda na construção do Salão da Índia e da torre de lótus na propriedade do Templo e Ashram de Hollywood e serviço de cozinheiro no restaurante da SRF em Hollywood. Ele iniciou seus deveres como ministro na década de 1950 e, por anos, foi o ministro principal dos Templos da SRF em Hollywood, Encinitas, Phoenix, Santuário do Lago, Pasadena e Fullerton. Além disso, fez inúmeras viagens à Índia, servindo na Yogoda Satsanga Society de Paramahansaji, conduzindo cerimônias de iniciação em Kriya Yoga e palestrando para enormes audiências através do país. Ao longo dos anos, ele também dirigiu vários ashrams da SRF.

Irmão Anandamoy foi membro do Conselho de Diretores da Self-Realization Fellowship e da Yogoda Satsanga Society of India por muitos anos. Sri Daya Mata também o fez responsável pela orientação espiritual dos monges da SRF, função que ele exerceu por décadas como amado conselheiro e mentor.

Paramahansaji confidenciara a Irmão Anandamoy que este estava destinado a ser instrutor e orador público, e é por este papel de ministro que ele será longa e amplamente lembrado. Durante extensivas viagens nos Estados Unidos, na Europa e na Índia que abrangeram quatro décadas, Irmão Anandamoy veio a ser reconhecido como um dos ministros da SRF mais amados e respeitados, inspirando tanto membros da SRF quanto também não membros com suas incisivas apresentações dos ensinamentos de Paramahansa Yogananda, suas memórias pessoais de suas experiências com o Mestre e seu aconselhamento pessoal, sábio e compassivo. Amorosos pranams a um monge querido Ao enviarmos nossos amorosos pranams ao Irmão Anandamoy, podemos nos confortar com o pensamento de que ele está agora unido a Deus e ao Guru, aos quais dedicou a vida tão completamente. Podemos também ser gratos pelas muitas gravações em áudio e vídeo que preservaram sua orientação encorajadora e penetrante e seu amável carisma.

Convidamos você a experimentar alguns desses momentos especiais com o Irmão Anandamoy no site da SRF e na nossa página no Youtube:


O site oficial da SRF também traz dois livretos e outras gravações em áudio e vídeo do Irmão Anandamoy. Para saber mais acesse: https://www.yogananda-srf.org/

 

 

Entrevista Exclusiva com o Monge Jayananda da SRF

eia a entrevista exclusiva com Irmão Jayananda, monge da Self-Realization Fellowship, organização que difunde os ensinamentos de Paramahansa Yogananda em todo o mundo. A entrevista foi realizada durante sua visita ao Brasil para o lançamento do livro “Só o Amor”, de Sri Daya Mata.

 

Sri Daya Mata foi uma das principais e mais próximas discípulas de Paramahansa Yogananda. Ela dirigiu a Self-Realization Fellowship (SRF) — a organização por ele fundada para manter a pureza original dos ensinamentos da ciência da Yoga — por mais de 50 anos, tendo se tornado uma das primeiras mulheres na história a comandar uma organização espiritual de âmbito mundial. Poucas horas antes do evento de lançamento em São Paulo, Irmão Jayananda concedeu esta entrevista exclusiva, ocasião em que compartilhou muitas de suas experiências adquiridas ao longo dos 20 anos em que trabalhou como secretário pessoal de Sri Daya Mata.

 

IRMÃO JAYANANDA – É bom estar aqui e é um prazer falar sobre o livro “Só o Amor”. Li em algum lugar que é o Mestre que dá os ensinamentos, mas é um discípulo adiantado que mostra como colocá-los em prática. Esse é o valor de um livro como este que estamos lançando agora. Sri Daya Mata foi uma grande discípula, que viveu os ensinamentos de nosso Guru e tinha a capacidade de explicá-los perfeitamente. Seu livro, portanto, mostra como colocar os ensinamentos em prática. Ela foi um exemplo supremo de como viver esses ensinamentos e estar em sintonia com o Guru.

 

Daya Mata conheceu Paramahansa Yogananda em 1931 e viveu muitos anos ao seu lado, participando de suas atividades diárias. Praticou as técnicas e os ensinamentos por longo tempo e, em 1955, três anos após a morte de nosso Guru, sucedeu a Rajarsi Janakananda, que acabara de falecer, como presidente da Self-Realization Fellowship, dirigindo a organização até o seu falecimento, em 2010. Teve uma vida longa, sempre muito concentrada nos ensinamentos do Guru.

 

Os ensinamentos de Paramahansa Yogananda, seus métodos e técnicas de meditação, ajudam os que estão interessados em sentir uma conexão com Deus na vida diária. Isso é tão necessário neste complexo mundo de hoje! As pessoas estão sempre afobadas e se perguntam por que não têm paz, felicidade e contentamento. Mesmo os que são bem-sucedidos, segundo os padrões do mundo, não são totalmente felizes. Não se dão conta de que existe algo mais profundo e significativo do que os objetivos da vida comum. Nosso Guru explica e oferece métodos que nos permitem alcançar esse estado.

 

Os ensinamentos de Yogananda estão alicerçados na prática da meditação, pois um caminho para sentirmos a presença de Deus é a Yoga, Raja Yoga. Aprendendo a interiorizar-se, a sentir primeiro a paz de Deus e, em seguida, a alegria e a bem-aventurança divina, a pessoa descobre que toda a sua vida foi afetada. Não importa em que lugar do mundo você esteja, nem o que você faz; não importam os problemas e as dificuldades que a vida lhe traz. Você tem uma âncora – algo em seu íntimo que lhe permite sentir essas expressões do Divino.

 

No começo de minha busca espiritual, compareci, em 1976, a uma convenção internacional, e o livro “Só o Amor” tinha acabado de ser lançado (em inglês). Foi quando me apresentaram a Daya Mata. Isso foi há muito tempo! Alguns anos depois, em 1979, entrei no ashram (vida monástica) e, em 1981, comecei a trabalhar como um dos secretários de Daya Mata. Fiquei na função por mais de 20 anos. Um grande privilégio, porque pude vê-la no ashram e observar como enfrentava os problemas que apareciam e como ensinava a todos, como lidava com a pressão, como se concentrava no trabalho e conseguia, ao mesmo tempo, administrar a organização e manter sua própria consciência santificada.

 

Há algumas histórias espetaculares a respeito de Daya Mata. Ela possuía uma intuição extraordinária. Guruji definiu a intuição como o “sexto sentido”, o poder onisciente da alma. Quando ele se manifesta, torna-se desnecessário chamar os sentidos para saber alguma coisa; a intuição fornece o conhecimento a partir de dentro. Daya Mata tinha essa habilidade profundamente desenvolvida, por causa de seus anos de prática da meditação. Por exemplo, ela frequentemente tomava decisões para o trabalho da organização. Às vezes, pessoas ao seu lado não conseguiam entender por que ela tomara uma direção, quando os fatos sugeriam que deveria ter tomado outra. Mas ela estava sempre certa. Acho que, ao tomar uma decisão, ela sempre se perguntava: “O que o Mestre iria querer que eu fizesse? O que é melhor para o trabalho do Mestre?” Ela nunca colocou seu interesse pessoal em primeiro lugar; sempre visou alinhar-se com a vontade do Guru – e nisso foi sempre muito competente.

Sri Daya Mata
Sri Daya Mata

 

As coisas mais surpreendentes aconteciam na maneira simples com que ela tratava as situações do dia a dia. É impressionante, porque tal capacidade de concentração é rara. Daya Mata tinha a habilidade de focalizar qualquer coisa que estivesse diante dela, qualquer objeto em que colocava a atenção. Concentrava-se 100% e não se deixava influenciar por qualquer distração ao redor; podia interromper uma tarefa, começar outra e depois voltar à anterior no ponto exato em que a interrompera. Uma vez, eu estava escrevendo algo que ela ditou, algo profundo e complexo. Então, enquanto ela refletia e falava, o telefone tocou. Ela interrompeu o ditado e conversou por muito tempo ao telefone. Quando voltou, virou-se para mim e reassumiu exatamente no ponto em que havia parado!

 

Era surpreendente testemunhar isso. Guruji costumava falar sobre os benefícios do poder da vontade e da concentração, mas, quando vemos um exemplo vivo deles, ficamos admirados. Daya Mata dizia que praticava Hong-Só o tempo todo, que era sua técnica de meditação favorita. Durante o dia, quando dispunha de alguns minutos, ela praticava Hong-Só. Dizia que, fazendo isso, sua mente se tornava imediatamente tranquila, centrada. E nos treinou para fazermos a mesma coisa. Quando estávamos em meio a um ditado e havia alguma interrupção, como uma chamada telefônica, ela não deixava os que estivessem ao seu lado perder tempo. Dizia: “Fechem os olhos e meditem por um instante; foi assim que Guruji treinou os que estavam com ele”.

 

Ela era dotada de grande compaixão. De fato, seu nome, “Daya Mata”, significa “Mãe de Compaixão”. Sempre levava muito a sério qualquer um que a procurasse pedindo ajuda, mesmo aqueles que lhe escreviam – e ela recebeu muitas cartas ao longo dos anos. Uma vez, vendo uma pilha de cartas em sua mesa, perguntei: “O que faz com tudo isso, Ma?” Ela respondeu: “São cartas de pessoas pedindo ajuda. Eu as levarei a meu quarto hoje à noite, colocarei sobre o altar e rezarei por elas.”

 

Um dia, entrei em seu escritório e vi que tinha uma carta nas mãos. Seus olhos estavam fechados, e ela orava profundamente. Fiquei ali por um tempo, e, quando ela abriu os olhos e me viu, disse: “Esta pessoa está com problemas; precisa de minhas orações”. Uma coisa é fazer algo assim quando tem gente observando, outra coisa é fazer isso quando não há ninguém por perto. Isso comprovou para mim, mais uma vez, que o que víamos em Daya Mata externamente era o que ela realmente era por dentro.

 

Paramahansa Yogananda sabia que grande discípula ela era. Ela começou assumindo todas as tarefas administrativas da SRF em 1948, e passou a ter uma grande carga de trabalho. Contudo, mesmo com toda essa responsabilidade, nunca deixou de lado suas atividades espirituais.

 

Todos os que estavam na presença de Ma sentiam seu amor e santidade. Quando eu era um jovem monge, sempre notava que, perto dela, me sentia incrivelmente feliz, satisfeito. Uma vez, tendo ela que se ausentar por algumas semanas, eu me perguntei: “Para onde foi aquela minha felicidade?” Era Daya Mata que frequentemente me elevava com a sua vibração.

 

Vou contar outra boa história sobre ela: uma vez, três empresários quiseram falar com ela, já que era a presidente da organização. Eram advogados, ou banqueiros, executivos de alto status em suas empresas. Daya Mata pediu-me que os recebesse no prédio administrativo (na sede central da SRF). Eram por volta das 18 horas, depois do expediente, e todos os outros visitantes já tinham ido embora. Vi que os três estavam ali, e eles olhavam em volta, sem dúvida se perguntando: “Que tipo de lugar é este?” Levei-os a uma sala no terceiro piso, onde Daya Mata costumava receber as visitas. Deixei-os ali com Ma e aguardei fora da sala. Lembro-me do lindo pôr do sol naquela tarde. Quando a reunião com Daya Mata terminou – durou quase uma hora –, eu os encaminhei para a saída. Notei que todos pareciam muito diferentes do que uma hora antes. De repente, enquanto descíamos a escada, um dos homens segurou-me pelo braço, apontou para cima e perguntou com muita sinceridade: “Quem é ela?”

 

Compreendi que Ma conversara com esses empresários, homens “do mundo”, sobre questões de trabalho; ela era brilhante em muitos assuntos, e sua capacidade de concentração e entendimento era rara. Além disso, ela sempre mostrava um interesse genuíno pelas pessoas; sempre conversava de maneira tão amorosa que fazia qualquer um se comover. Mesmo numa conversa sobre negócios, ela podia perguntar num dado momento: “Como está você?” ou “Você tem família, filho?” Estar com ela era como estar com uma verdadeira mãe. Quando aqueles empresários me perguntaram quem ela era, pude ver que tinham passado por uma transformação. Ficaram profundamente impressionados com seu contato com Ma; tiveram uma nova perspectiva sobre ela e sobre a SRF.

 

Sri Daya Mata era uma pessoa muito amorosa, muito jovial. Era impossível estar com ela e sentir-se triste. Ela era muito sensível e percebia se alguém estava infeliz. Uma vez, eu andava acabrunhado; alguma coisa estava me chateando. Ela me pediu que viesse vê-la, e, como eu não queria que percebesse que estava me sentindo mal, disfarcei com um sorriso no rosto. Quando entrei no escritório, ela trabalhava em sua mesa. Olhando para mim, perguntou imediatamente: “Está se sentindo bem?” Ela sentiu que a minha vibração estava perturbada.

 

Daya Mata possuía e irradiava felicidade. Estivesse ela falando para um grupo pequeno ou grande, para mil ou quatro mil pessoas, todos se sentiam felizes em sua presença. Dizia algo engraçado, e todo mundo ria; era um magnetismo que contagiava a todos. De muitas maneiras, ela influenciou a vida de muita gente, inclusive pessoas que, por intermédio dela, foram apresentadas à SRF. Em seus primeiros anos, ela viajou como representante da SRF e falou em todo o mundo, mas nos últimos anos permaneceu mais “nos bastidores”. Mas nunca deixou de receber e conversar com as pessoas.

 

 

Nós (a SRF) publicamos uma revista especial, logo após o seu falecimento, com muitas fotografias suas em diferentes circunstâncias e situações – ao lado de um chefe de governo ou de alguém mundialmente famoso, ou cumprimentando alguém pela primeira vez, falando diante de agrupamentos grandes ou pequenos, em ambientes naturais ou urbanos, ou apenas meditando em silêncio. Em todos esses retratos, não importa o que Ma estivesse fazendo, podemos notar que em cada caso ela está sempre interagindo perfeitamente com as pessoas e com o ambiente, expressando compaixão, amor e compreensão. Assim era Ma.

 

OMNISCIÊNCIA – Gostaríamos de saber mais a respeito da capacidade de pacificação que Daya Mata possuía porque ouvimos dizer que essa era uma de suas características mais notáveis, algo que também foi levado em consideração quando foi escolhida como dirigente da SRF.

 

IRMÃO JAYANANDA – Não há dúvida sobre sua capacidade como pacificadora. Ela própria era pacífica, jovial. Paramahansa Yogananda dizia que devemos ser o que desejamos que as pessoas ao nosso redor sejam. Não podemos esperar que as pessoas se comportem de um jeito, quando nós nos comportamos de outro. Ma era pacificadora; tinha a capacidade de unir as pessoas. Era corajosa; não hesitava em fazer o que tinha de ser feito. Sabia que estava a serviço do Guru; se ele lhe pedisse algo, ela executava sem questionamentos ou demoras.

Às vezes, sentimos receio quando temos que enfrentar alguém. Ma, não; ela simplesmente fazia o que precisava ser feito. Ela também sempre apelava para a natureza superior da pessoa; ela era o exemplo, inspirando os que estavam ao seu lado a serem pessoas melhores. Essa característica é impressionante. Paramahansa Yogananda dizia: “Eu atraio pessoas resolutas”. Bem, pessoas resolutas têm grande força de vontade: uma vez que decidem algo, é pouco provável que mudem de ideia! Ma, porém, tinha a capacidade de colocar as pessoas em sintonia com a vontade de Guruji, e lembrava a todos nós que deveríamos nos esforçar para vivermos sintonizados com o Divino. Ela era muito respeitada por todos.

 

OMNISCIÊNCIA – Como pode a meditação ajudar nessa expansão do amor, da qual Daya Mata foi um grande exemplo?

 

IRMÃO JAYANANDA – Só podemos afetar o mundo de uma maneira, e esta é mudando a nós mesmos. Quando a pessoa muda, torna-se possível para ela influenciar o mundo. Guruji disse: “Mude a si mesmo, e você mudará milhares”. Quando alguém se transforma de verdade, existe a possibilidade de mudar o mundo de maneira notável.

 

A Yoga permite que as pessoas transformem sua consciência por meio da meditação. O que é meditação? Guruji ofereceu uma linda definição, dizendo que é “um processo de cultivar e estabilizar a consciência da nossa verdadeira natureza”. Na vida cotidiana, não vemos qual é a nossa verdadeira natureza; o mundo nos influencia a agir e a acreditar em certas coisas. Tendemos a pensar que temos limitações, que não somos capazes de amar, compreender, ter sabedoria. Mas a meditação, “o processo de cultivar e estabilizar a consciência da nossa verdadeira natureza”, por meio de métodos científicos e definidos, é um caminho para ir além da consciência do ego e substituí-la pela consciência da alma.

 

Então, como a meditação funciona? Ela transfere a nossa consciência, do corpo e suas limitações, da mente e suas oscilações, para a percepção do espírito: um estado de paz, alegria, contentamento. Ouvi dizer que meditar é como manusear o sândalo: quanto mais alguém o manuseia, mais a sua pele retém aquela fragrância. De maneira parecida, quanto mais frequente e profundamente você medita, mais os períodos entre uma meditação e outra são afetados. Quando fizer uma boa meditação e, depois, sair para o mundo, você notará que vai interagir com as pessoas de uma maneira diferente, mesmo com aquelas com quem talvez tenha um relacionamento difícil. Naturalmente, você pensará: “Bem, tal pessoa não é tão má assim. Tem algumas boas qualidades!” Você mudará e, de repente, suas relações serão diferentes. E o que você recebe em troca começa a mudar também. É um processo gradual, porém certo. Com a meditação regular através dos anos, sua capacidade de estar no mundo muda. Guruji dizia que o ideal é estar no mundo, mas sem ser do mundo. Com a meditação, é possível tornar-se menos afetado pelo mundo, porque existe um lugar em nosso ser interior ao qual podemos recolher a nossa consciência.

 

Hoje passamos por uma rua cheia de girassóis. O iogue assemelha-se a um girassol, sempre voltado para o sol, para a luz. Não importa onde esteja, ele segue a percepção interna do Divino e busca a presença de Deus. É um caminho maravilhoso, inspirador, sempre novo.

Sri Daya Mata

OMNISCIÊNCIA – Poderia nos dizer algo a respeito da saúde do corpo e da mente…

 

IRMÃO JAYANANDA – Estão todos conectados: corpo, mente e alma. É impossível fazer algo com um deles sem afetar os outros dois. Você dizia que trabalha com crianças; nelas podemos notar, por exemplo, os efeitos de uma dieta saudável. Melhore a alimentação das crianças e notará uma melhora na vitalidade delas; serão mais alegres se comerem mais frutas e verduras frescas. Logo, tudo é afetado. A Yoga proporciona um enorme suporte para o corpo, a mente e a alma. A Hatha Yoga focaliza o corpo, que, por sua vez, afeta a mente. A Raja Yoga é a meditação, e Guruji nos deu técnicas, exercícios de energização – 38 exercícios que fortalecem e acalmam o corpo pelo poder da vontade. São maravilhosos esses exercícios!

 

Em outras palavras, se a mente é sadia, se você é centrado, se existe paz e plenitude interior, esse estado faz com que o corpo também se torne saudável. A Raja Yoga é um caminho para estabelecer a harmonia entre os três elementos: o corpo, a mente e a alma.

 

Atualmente, muita gente está sofrendo de estresse. Não é apenas um problema da mente, mas também prejudica o corpo. O estresse provoca muitas doenças. Numerosos médicos e cientistas pedem aos doentes que relaxem, para irem à praia, que esqueçam o trabalho, que evitem abrir suas caixas de e-mail por três semanas!

 

Os três elementos – corpo, mente e espírito – estão conectados. Guruji não diz que você tem de fugir; ele diz que, se todos fugissem para as montanhas, teríamos que construir uma cidade lá! Você não pode evitar algumas circunstâncias, mas pode mudar de maneira suficiente a sua consciência (o modo como enxerga a vida), para que se torne mais tranquilo, centrado e, portanto, capaz de influenciar os problemas externos que o atormentam. Isso é estar no mundo sem ser do mundo.

 

Penso que Daya Mata foi um grande exemplo disso, porque estava frequentemente sob pressão. Ela dirigiu uma organização internacional durante 55 anos, lidando com todos os tipos de desafios que fazem parte do comando de qualquer grande organização. Apesar disso, quem a visse pensaria que não havia nada que a preocupasse, nenhum problema. Ela sabia que não seria capaz de suportar tamanho nível de pressão e de responsabilidade se não fosse sua prática diária da meditação, pela manhã e à noite.

 

OMNISCIÊNCIA – Irmã Gyanamata, outra grande discípula deste caminho, diz em seu livro God Alone que as vibrações de guerras no mundo inteiro nos afetam. Como podemos lidar com tudo que esteja ao nosso redor?

 

IRMÃO JAYANANDA – Bem, o mundo continuará sendo o mundo. No momento atual, guerras e dificuldades existem. Devemos procurar, dentro de nós, um lugar de paz e tentar expandir essa paz, para que todos os que cruzem nosso caminho sintam essa paz e esse amor. Na época atual, é aí que a consciência da humanidade se encontra. Guruji diz que esta consciência está se elevando cada vez mais, que sempre haverá mais e mais compreensão a respeito do propósito da vida. Se compararmos o mundo de hoje ao de 100 anos atrás, certamente constataremos que a compreensão e a consciência se elevaram. Há um interesse crescente pela Yoga, por viver de uma maneira científica, que traga felicidade. Tais questões tornaram-se mais conhecidas muito recentemente. Então, as coisas vão melhorar, mas é um processo lento. O melhor que podemos fazer é trabalhar a nós mesmos para mudar nossa consciência e ajudar aqueles que conhecemos em nossa vida. Esse é o caminho de Guruji. Cada pequeno esforço ajudará a fazer um mundo melhor, mais pacífico.

 

É também prático e muito útil rezar pelo mundo; Guruji sempre enfatizou isso. Em todos os nossos centros e grupos de meditação, e nos ashrams, oramos diariamente pela paz mundial. Orar é um modo efetivo de enviar vibrações positivas e afastar para longe as vibrações da guerra e do ódio.

 

OMNISCIÊNCIA – A Yoga, essa antiga ciência, traz a possibilidade de acelerar a evolução humana?

 

IRMÃO JAYANANDA – Certamente que sim. Guruji explica que a evolução humana regular implica milhares de enfermidades por muitos anos. Muitas encarnações são necessárias até que a consciência se aproxime de Deus e a presença divina seja perfeitamente sentida e refletida. A Yoga acelera esse processo de maneira fabulosa. É um pouco parecido com um atleta que treina para melhorar o desempenho. É possível treinar a mente, a consciência, e a Yoga faz isso: ela treina a consciência para que a experiência de Deus aconteça e se reflita na vida diária. Como disse Guruji, uma só prática correta da Kriya Yoga equivale a um ano de evolução comum.

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Uma vez, Yogananda disse a Daya Mata que continuasse praticando e, um dia, quando olhasse para trás, ela não se reconheceria, pois a prática traria muitas mudanças. E ela disse que isso realmente aconteceu! Um dia, ela olhou para trás e não conseguiu se identificar com as fraquezas que tivera anteriormente, as dúvidas e o medo que costumava ter. Tinha mudado tanto que não podia mais se reconhecer. Penso que qualquer um que pratique sinceramente terá, depois de anos, a mesma experiência – a de não ser mais a mesma pessoa, a de sentir que cresceu.

 

Com a idade, muita gente se desenvolve fisicamente, mas não mentalmente e espiritualmente! Porém existem formas efetivas de ajudar alguém a crescer. Formei-me na universidade, mas comecei realmente a aprender – conseguindo pensar de verdade – quando comecei a praticar Yoga. Fiquei muito mais focado e interessado em diversos assuntos, muito mais do que quando era mais jovem.

 

A Yoga é a ciência da religião; é um método. Atualmente, pouca gente sabe que a Yoga é uma ciência, mas é.

 

OMNISCIÊNCIA – Daya Mata diz, no começo do seu livro, que as pessoas buscam uma experiência pessoal de Deus. Quer dizer, elas querem sentir a presença Dele interiormente – não uma religião, em que alguém, de fora, fala sobre Deus – e a Yoga traz essa possibilidade…

 

IRMÃO JAYANANDA – Sim, ela traz essa possibilidade. Temos experiências diferentes. Às vezes, pensamos em Deus como alguém de barba comprida, lá no céu. Tentamos chegar a Ele sem compreender que somos Seus filhos, que somos feitos à Sua imagem. A Yoga nos dá a capacidade de despertarmos gradualmente para a nossa unidade absoluta com Deus; então podemos começar a sentir e a perceber diretamente a presença divina.

 

Nasci numa religião que afirmava serem os santos criaturas especiais feitas por Deus, diferentes de todos os outros. Mas Guruji diz que somos todos santos em potencial – aquilo que eles viveram, experimentaram e realizaram nós também podemos viver, experimentar e realizar. Mas precisamos de um método, e a Yoga é esse método.

 

Lembro-me de alguns anos atrás, quando monges da Yogoda Satsanga Society (YSS; organização filial da SRF na Índia) vieram nos visitar. Um deles nos contou que certa vez viajava por uma floresta, no sul da Índia, com outro monge. Nessa floresta, eles encontraram um eremita, um sábio que lá vivia. Quando esse homem soube que os monges eram da YSS, ficou impressionado e lhes mostrou um livro que ele guardava em seu abrigo: “Só o Amor”. Para ele, era o livro mais sagrado que já tinha lido, porque explicava como praticar e estar em sintonia com o Divino. Fiquei admirado quando ouvi essa história.

 

OMNISCIÊNCIA – Qualquer um pode praticar essas técnicas, existe algum requisito para isso?

 

IRMÃO JAYANANDA – Acredito que o requisito para o nosso caminho é o interesse sincero nos ensinamentos de meditação iogue de Paramahansa Yogananda. Guruji dizia: “Tente. Pratique os ensinamentos. Se não funcionarem, dê adeus e siga adiante.” Mas ele também disse que se os praticarmos sinceramente não iremos ficar desapontados e, em minha opinião, isso é verdade. O livro “Só o Amor” contém argumentos bastante convincentes de alguém que praticou os ensinamentos.

 

Observe que, no caminho espiritual, nada acontece à toa. Todos nós conhecemos a história de uma jovem que, antes de tornar-se monja da SRF, caminhava numa biblioteca quando um livro caiu sobre sua cabeça. Era a Autobiografia de um Iogue! O Guru nos encontra onde quer que estejamos; não é algo que aconteça por acaso.

 

OMNISCIÊNCIA – Como levar uma vida equilibrada num mundo que nos empurra todos os dias para trabalhar mais? Como a Yoga nos ajuda nesse estilo de vida moderno?

 

IRMÃO JAYANANDA – Acredito que a vida deve ser equilibrada. É quase impossível sermos felizes e satisfeitos se dedicamos muitas horas ao nosso trabalho e nenhuma à prática espiritual. Porém, ter uma vida equilibrada tem diferentes significados para pessoas diferentes. Por exemplo, algumas assumem demasiada responsabilidade, e, quanto mais assumem, maior é a necessidade de práticas que tragam essas pessoas de volta para o seu centro.

 

O primeiro presidente da SRF, após a morte de Yogananda, foi Rajarsi Janakananda; ele faleceu em 1955, depois do que Daya Mata tornou-se a presidente. Rajarsi Janakananda era um empresário multimilionário. Era dono de empresas e teve de suportar grandes pressões, mas era uma alma admirável! Há exemplos de pessoas que alcançam essa vida equilibrada. Mas Rajarsi criou aquele espaço. Ao chegar ao escritório, toda manhã, ele trancava a porta para um período de meditação; sabia da importância de fazer isso.

 

Penso que é importante para alguém que busca uma vida equilibrada criar tempo e espaço para praticar Yoga. Mesmo um tempo bem curto é melhor que nenhum. Daya Mata costumava dizer em suas palestras: “Façam 15 minutos por dia, mesmo cinco minutos! Vocês verão seu coração abrir-se para Deus. Meditem!” Ela então dizia: “Tentem sentir a presença de Deus e serão saudáveis”.

 

Assim, quem consegue ter horas e horas para a prática? Comece do ponto onde está, observando o que realmente importa, estabelecendo prioridades. Guruji dizia que, quanto mais ocupado esteja, tanto mais seletivo você deve ser a respeito de sua “dieta mental”. Temos de evitar o que não é relevante. Empresários de êxito conhecem essa lei; não perdem tempo com atividades inúteis. Certamente, é positivo reservar tempo para relaxar e para atividades recreativas. Guruji conhecia o equilíbrio. Ele só não queria que perdêssemos tempo com atividades desnecessárias.

 

Às vezes, na vida, passamos por períodos extremamente ocupados, não há tempo para nada. Até esquecemos quem somos. Guruji diz que tudo bem, essas coisas acontecem, mas depois desse período devemos voltar para o centro e recuperar o equilíbrio. Tudo depende do que você quer. Se desejar ter uma vida equilibrada, encontrará um caminho para ela e será saudável.

 

Também no ashram há períodos atarefados, em que tentamos fazer o melhor que podemos, meditamos tanto quanto possível e percebemos que o Guru nos ajuda. Às vezes, descobrimos que uma meditação curta durante um período turbulento é tão eficaz como se tivéssemos meditado por horas. Isso não se deve às nossas próprias habilidades; é Guruji dizendo: “Muito bem, não se preocupe!” É parte da vida interior do iogue. Daya Mata fala sobre isso em “Só o Amor” quando comenta a respeito das responsabilidades da vida. Acredito que qualquer um que leia esse livro sentirá a sinceridade de Daya Mata. Muitas das perguntas que foram feitas sobre a vida equilibrada, como também outros tópicos, são abordadas detalhadamente no livro dela.

 

OMNISCIÊNCIA – Poderia falar um pouquinho sobre o atual momento da SRF, os projetos, as mudanças, a nova presidente Sri Mrinalini Mata…

 

IRMÃO JAYANANDA – Sri Mrinalini Mata é admirável, também. Não trabalho diretamente com ela, mas a vejo sempre. É uma alma surpreendente. Guruji a conheceu quando ela era muito jovem e ela entrou na comunidade monástica da SRF aos 15 anos, com a permissão dos pais. Desde o começo, ele sabia qual seria o papel dela – como sabia o de todos os outros! Sabia que ela editaria os ensinamentos e seria responsável por sua difusão. Ele a treinou nessas tarefas.

 

Daya Mata, em minha opinião, operava principalmente com o coração, com amor e compreensão, enquanto Mrinalini Mata, que certamente tem essas qualidades, trabalha em um nível de profunda sabedoria. Mas, no cômputo final, ambas alcançaram o mesmo patamar, ainda que a trilha tenha sido um pouco diferente!

 

O trabalho está nas mãos de nosso Guru. Ele sempre indicará as pessoas certas para fazerem o que é necessário. Tudo está sob o controle do Guru; estamos em boas mãos!

 

Yogananda disse que, após a sua partida, os ensinamentos seriam o Guru. Isso é muito importante. Todo devoto sincero sabe que isso é verdade. Assim, o Guru fala conosco frequentemente, quando pegamos um de seus livros ou escritos! Nós estamos em boas mãos!

 

OMNISCIÊNCIA – Gostaria de dizer alguma coisa para o povo brasileiro? É a sua primeira visita ao Brasil?

 

IRMÃO JAYANANDA – Estou no Brasil pela primeira vez. Minha impressão é muito positiva; posso ver que há uma enorme devoção. O livro “Só o Amor” é universal – para todos lerem. Os brasileiros com certeza ficarão interessados neste grande livro.

Fonte: Blog da Cultura da Paz